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Tecnologia e inovação aberta são oportunidades e tendência para o setor de saneamento

Ao falarmos em saneamento básico, precisamos entender que a água tem impacto em diversos assuntos essenciais para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta e a sua distribuição e qualidade estão diretamente relacionadas à qualidade de vida das pessoas – e à nossa existência. Cuidar da qualidade e do processo de distribuição de água para a população é um dos desafios endereçados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O ODS número 6 estabelece que os líderes mundiais se comprometam em garantir a disponibilidade e a gestão sustentável de água e saneamento para toda a população.

Apesar de ser um recurso vital, muitos desafios impedem que a maioria das pessoas, um grande número representado por pessoas em situação de vulnerabilidade social, tenham acesso a água potável e esgoto tratado. Segundo um relatório lançado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em 2021, cerca de 100 milhões de brasileiros não dispunham de rede de coleta de esgoto e 35 milhões não tinham acesso à água tratada. O levantamento mostra que somente 31,78% das pessoas nos 20 piores municípios são abastecidas com coleta de esgoto, enquanto nos 20 melhores o percentual chega a 95,52%.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada dólar investido em água e saneamento, são economizados 4,3 dólares em custos de saúde. No mundo 2,5 bilhões de pessoas ainda sofrem com a falta de acesso a serviços de saneamento básico.

O Brasil é um país gigantesco e muitas cidades foram construídas sem planejamento urbano. O último diagnóstico divulgado pelo SNIS em dezembro de 2021, referente ao ano de 2020 mostra que, apesar de 93,4% da população urbana ser atendida por rede de abastecimento de água, as perdas desse recurso na distribuição são enormes, chegando a quase 40,1%.

Quando o assunto é esgoto, a situação é ainda pior. Uma parcela de apenas 59,2% da população urbana é atendida pela rede de esgotos, ou seja, muitos brasileiros ainda não são beneficiados por esse serviço. Esses dados confirmam como a distribuição e o tratamento da água são um problema complexo que depende de vários atores para que as mudanças sejam significativas.

Mas, quais caminhos são eficientes para que mais pessoas tenham acesso a água de qualidade e tratamento de esgoto?

Inovação como caminho impulsionador

Conversando com empresas que atuam no setor, entendemos como a inovação aberta alinhada à tecnologia e outras medidas, como o Marco Legal do Saneamento Básico, trouxeram importantes avanços para o setor.

Para Ewerton Pereira Garcia, diretor da Tigre Água e Efluentes (TAE), a inovação tem sido um fator determinante para que a transformação aconteça em um setor conservador como o de Saneamento. Ele nos contou sua visão: “Se olharmos pelo ponto de vista técnico/econômico, uma obra de infraestrutura para distribuição de água é cara e lenta. Só por meio da inovação tecnológica vamos conseguir acelerar o processo e reduzir custos de distribuição, e é nesse momento que vamos tirar mais mais de 100 milhões de pessoas do estado de calamidade sanitária”.

A TAE (Tigre Água e Efluentes) surgiu em 2016. Na época a iniciativa era uma startup que atuava com empresas de bebidas e tinha como objetivo diminuir o indicador de litro de água por bebida produzida. Com olhar focado em inovação, a Tigre adquiriu a startup e, usando toda a sua capacidade de escala, a transformou em uma unidade de negócio estratégica da empresa.

Hoje, uma das áreas de atuação da TAE é promover saneamento básico a cada vez mais brasileiros por meio da Unifam – uma estação de tratamento de esgoto unifamiliar. Com dimensões reduzidas, a estação faz o tratamento biológico aeróbio com eficiência que supera os padrões exigidos pelas normas do setor. É compacta, o que facilita a instalação em qualquer condição, seja em regiões isoladas ou de adensamento urbano excessivo.

O custo de manutenção e o consumo energético da unidade são minimizados e o descarte do esgoto tratado é realizado de diversas formas. O produto atende a uma demanda socioambiental de tratamento de efluentes, especialmente em comunidades, e é nestes casos que vemos a importância da inovação com olhar para impacto positivo: criar uma solução com alta eficiência e baixo custo para promover acesso à serviços essenciais.

Essa iniciativa reforça a visão de que a conexão com startups de impacto pode não só trazer inovação para as empresas, como criar novas unidades de negócios rentáveis e gerar impacto positivo na sociedade.

Marco do saneamento básico: oportunidades e desburocratização

O Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado em Julho de 2020, tem como grande destaque a meta de universalização e qualificação dos serviços prestados no setor, como a garantia de cobertura de 99% da população com abastecimento de água potável e de 90% com coleta e tratamento de esgotos até 2033.

Quando sancionado, o marco acarretou diversos aspectos positivos e negativos para a gestão dos recursos hídricos. Um dos aspectos positivos é o fomento a investimentos no setor: segundo um levantamento feito pelo Governo Federal, o Marco Legal já permitiu investimentos de R$ 72,2 bilhões no setor. A regulamentação tem se mostrado uma ferramenta eficaz para a atração de investimentos para obras e projetos de saneamento básico no Brasil, e muitas empresas já estão se utilizando do Marco para promover ações que geram impacto positivo.

Eduardo Mendes, diretor executivo de Tecnologia da Aegea, empresa privada líder em saneamento no Brasil, nos contou que acredita que o marco regulatório possibilitou, além do avanço nos investimentos, maior controle de aplicação e diretrizes mais claras. “O marco regulatório trouxe uma maior atenção para o setor, o que acabou atraindo mais investimentos para toda cadeia. Este investimento acelerou a transformação do setor fomentando mais tecnologia e mais inovação.

Soluções em vista

Startups de impacto têm se apresentado como potenciais parceiros para encontrar soluções inovadoras que contribuam de maneira significativa com o desafio. Um exemplo é a Inspectral, que resolve o problema do método tradicional de monitoramento da qualidade da água – o qual envolve o difícil deslocamento até a margem do rio, com equipamentos pesados, sensores, e relevante custo logístico. A startup desenvolveu uma tecnologia para que esse monitoramento ocorra de forma remota por meio de imagens de satélite e drones.

Outro exemplo é a PwTech, que facilita o tratamento das águas contaminadas com um equipamento de baixo custo desenvolvido de forma a facilitar sua utilização com fontes de energia alternativas; e a Taboa Engenharia, que existe para contribuir com a universalização do acesso ao saneamento no Brasil através de projetos para as populações que mais sofrem com a falta deste serviço.

Já acompanhamos diversos setores se destacarem ao longo destes nossos anos de Quintessa. Cerca de 10 anos atrás vimos os negócios de impacto de educação e as edtechs crescerem. A PNRS fomentou o surgimento de diversos negócios no setor de economia circular e gestão de resíduos. Recentemente vimos as soluções em saúde ascendendo. Dada a grande necessidade da sua transformação, que o Marco seja um propulsor para que vejamos um crescimento no segmento de água e saneamento nestes próximos anos.

Matéria completa em: https://umsoplaneta.globo.com/opiniao/colunas-e-blogs/anna-de-souza-aranha/post/2022/07/tecnologia-e-inovacao-aberta-sao-oportunidades-e-tendencia-para-o-setor-de-saneamento.ghtml

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